O Brasil vive um novo "apagão". Além do "apagão" aéreo e da ameaça de falta de energia a partir de 2010, o país enfrenta uma crise logística. Não se trata apenas de estradas esburacadas, da ausência de infra-estrutura portuária ou da falta de ferrovias. O problema agora é a falta de caminhões novos.O aquecimento da economia, principalmente dos setores agropecuário e de construção civil, está fazendo com que as vendas de caminhões batam recordes neste ano.
Em abril, foram vendidos 27,6 mil caminhões, marca recorde e 27% acima das vendas no mesmo mês de 2006. No primeiro quadrimestre, as vendas subiram nesse mesmo ritmo. A previsão é fechar o ano com expansão acima de 10%.
O tamanho da fila para conseguir um caminhão já é enorme -e aumenta cada vez mais. Dependendo do tipo e da marca, o interessado vai ter de esperar até setembro. O caso mais grave é dos caminhões extrapesados, acima de 45 toneladas, que simplesmente desapareceram do mercado.
O presidente da ANTC (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), Geraldo Vianna, diz que o tamanho da fila começa a ser preocupante.
O receio é que os preços disparem com uma eventual cobrança de ágio para furar a fila para a compra do caminhão. A alternativa, a seu ver, seria o país abrir as portas à importação de caminhões.
As montadoras não estavam preparadas para esse boom. Algumas delas estão trabalhando em até três turnos, mas esbarram em outro problema. A falta de peças na linha de produção. As autopeças também não esperavam um crescimento tão forte na procura por caminhões.
A Volkswagen Caminhões e Ônibus, que é líder de vendas no setor, está levando de 60 a 90 dias para entregar uma unidade. Além do aumento de pedidos, o grande problema que a empresa enfrenta é a falta de peças e equipamentos. Segundo Ricardo Alouche, diretor de vendas e marketing da montadora, os fornecedores estão sem peças de reposição.
O grande problema é que a indústria começa a sofrer na carne os efeitos do "apagão" logístico. A Braskem, a maior petroquímica da América Latina, já está sentindo dificuldades para organizar e disponibilizar os caminhões para a entrega de seus produtos.
Segundo José Carlos Grubisich, presidente da Braskem, essa situação obrigou a uma intervenção maior da empresa no seu sistema de logística.
De acordo com Grubisich, o consumo interno de produtos petroquímicos subiu significativamente nos meses de março e abril. As vendas de resinas aumentaram 10%. O "apagão" logístico é daqueles problemas tidos como "bons", já que é resultante do aquecimento da economia. "O pior é se tivesse sobrando caminhão no parque das montadoras", diz Grubisich.
Fonte: Folha de São Paulo.